Em menos de seis horas, divididas em seis dias, terminamos a leitura do livro Shape Up! Isto mostra o poder da rotina e da constância da qual falei na Máquina de Aprender (ver os posts de 10 dias começando aqui).

Decida quando parar (continuação)

QA serve para os casos excepcionais

A qualidade do projeto é de responsabilidade do time de execução e portanto não há testadores especializados. No caso da Basecamp, uma empresa com 50 funcionários na altura da escrita do livro, tem 1 QA para criar tarefas para casos excepcionais dentro dos projetos. Então o QA só age quando o time entende que seu trabalho pode ser importante e é o próprio time que faz esses testes, preferencialmente de forma automatizada.

Extensão do tempo de execução

Há raros casos em que o tempo de execução pode ser expandido para dentro do tempo de resfriamento, mas as condições necessárias para que isso ocorra são: as tarefas que não conseguiram ser concluídas são todas obrigatórias para solução do problema e não há escopos dentro da subida da colina, ou seja, ainda com dúvidas a sanar. Mesmo nesses casos, é preferível que essa aposta seja descartada e só retomada se ela vier como nova aposta em ciclos seguintes. Essas apostas não concluídas podem indicar falha de performance do time ou do processo de modelagem dela.

Feedbacks precisam de modelagem

Após a entrega da solução, é possível que cheguem feedbacks de clientes sobre novos problemas ou sobre insatisfação. É essencial que o time não haja sob pressão e receba os feedbacks como novos itens a modelar. Assim, o time de modelagem consegue entender se as reclamações fazem sentido ou não e se merecem ser apostadas nos próximos ciclos.

Apêndices

O primeiro apêndice do livro explica como implementar o método usando a ferramenta Basecamp, e não farei nenhum resumo aqui por se tratar de algo muito específico e direto. Você pode consultar o livro caso queria aplicar o método no seu time. Os outros dois apêndices tem algumas informações que podem ser relevantes de forma geral ao tentar aplicar o método, então os apresento aqui.

Ajuste para o seu tamanho

Ao aplicar o Shape Up, algumas coisas dependem de como a empresa funciona, do tipo de software desenvolvido e de qual o tamanho da empresa. Nesse caso, é importante diferenciar aquilo que é crucial ao método e aquilo que pode ser adaptado. Os itens importantes são:

  • O time de execução deve trabalhar exclusivamente no projeto durante o tempo do ciclo. Nesse caso, a forma de isolamento do time pode variar, por exemplo a empresa tendo times de operação e infraestrutura para atender ao funcionamento do produto em produção. Também pode variar o tamanho do ciclo e se ele é fixo. Numa empresa muito pequena onde os fundadores ainda colocam a mão na massa, pode-se trabalhar em projetos com tamanho de ciclo diferentes. O importante é que se ajuste e se cumpra o apetite acordado.
  • É preciso trabalhar apenas em soluções modeladas. Não necessariamente é preciso ter times trabalhando de forma paralela em modelagem e execução. Numa empresa pequena, é bem possível que o mesmo time alterne entre essas fases.
  • É preciso ter um time multidisciplinar e responsável pela entrega da solução completa. Nem sempre uma pessoa faz cada coisa dentro de um time, mas ele precisa ter todas as competências necessárias para a entrega contempladas pelas pessoas do time.

Como começar a aplicar o Shape Up

O livro indica três opções para começar a trabalhar usando esse modelo, de forma que o entendimento de um ou alguns dos aspectos essenciais dele instigue o time a aplicar os outros.

  1. Fazer um experimento de seis semanas, isolando o time para que trabalhe sem interrupções e de forma autônoma em apenas um problema modelado.
  2. Começar com a modelagem, aplicando todo o método dessa fase do Shape Up e entregando para o time trabalhar usando o método que já usa hoje, como por exemplo Scrum.
  3. Fixar o ciclo do time em seis semanas evitando reuniões de planejamento (3 se o time usa scrum) e permitindo que o time acerte o passo de produção de código.

Espero que tenham gostado tanto quanto eu da leitura do livro. Ele nos dá insights bem interessantes de como é possível aplicar processos de desenvolvimento que fogem um pouco do lugar comum.

Ao mesmo tempo, o livro deixa espaço para dúvidas quanto à gestão dessas pessoas, uma vez que assume um compromisso total com as apostas feitas, algo que tem suas falhas de aplicabilidade na vida real. Acredito que o fato dos criadores e donos do Basecamp estarem até hoje dentro do processo de modelagem, permite que alguns erros não sejam cometidos, prejudicando o processo de execução. Eles também são pessoas sênior que podem ajudar sempre que necessário para desimpedir escopos que estejam subindo a colina por muito tempo.

Amanhã retomarei os estudos da plataforma Dev+Eficiente e blogarei aqui. Até amanhã!